Jesus, o mestre do coração

Ana Bezerra Felicio
6 min readAug 1, 2023

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“Ao ouvirem isso, os dois discípulos de João seguiram Jesus. Jesus olhou em volta e viu que o seguiam. “O que vocês querem?”, perguntou.” […]João 1:37,38 NVT

Você já experimentou uma incoerência entre aquilo que você pensa que é correto fazer e aquilo que você faz? Você quer muito ser uma boa pessoa, um bom discípulo de Cristo, porém você continua repetindo os mesmos comportamentos que você realmente não quer ter, como assim?

No começo do seu ministério, Jesus começa a escolher alguns discípulos; alguns dos seus primeiros discípulos, dois discípulos de João Batista, decidem seguir a Jesus, depois que João O apresenta como o cordeiro. Jesus faz então a eles uma pergunta, que é o versículo acima.

A pergunta de Jesus é simples e fundamental, “o que vocês querem?”, pode parecer uma pergunta inocente, mas não é; Jesus não pergunta “o que você sabe?” ou “o que você pensa?”; ele pergunta o que esses discípulos querem, porque aquilo que mais desejamos na nossa vida, irá nos guiar por toda a nossa vida. Enquanto você desejar outras coisas mais do que a Deus, você nunca se comprometerá plenamente com Deus. E esse desejo que o guia por toda a vida são os apetites do seu coração. Nossos desejos nascem dos nossos amores, e nossos amores nascem do coração. Por isso lemos em Provérbios 4:23 (NVT): “Acima de todas as coisas, guarde seu coração, pois ele dirige o rumo de sua vida.”

A Palavra é muito clara: o coração dirige o rumo da nossa vida, os seus maiores amores de hoje serão quem você se tornará amanhã. E, muitas vezes, é por isso que você pensa algumas coisas, mas faz outras, porque intelectualmente você sabe o que é correto fazer, mas o seu coração ama e deseja fazer outras coisas.

Como nosso amor por Deus pode crescer? O que eu amo mais que a Deus?

Muitas vezes, esses amores distorcidos em nossa vida foram plantados, como se fossem sementes, até finalmente florescerem, e às vezes esse fruto não é muito doce, pode até ser amargo!

Ser humano é ter um coração. É impossível não amar. Logo, a questão não é se você amará algo acima de tudo, mas o que você amará acima de tudo. E você é aquilo que você ama. — J. K. A. Smith [1]

Jesus quer saber de seus discípulos qual é o maior desejo de suas vidas (versículo acima), você quer ser um discípulo? Você quer amar a Deus? Você quer ser rico e famoso? Veja, o problema não é desejar algumas coisas boas para a nossa vida ou para a nossa família, o problema é quando esse desejo se torna o nosso maior desejo. Por isso, “Onde seu tesouro estiver, ali também estará seu coração. Mateus 6:21”. Se nós perguntarmos a um cristão “o que você anseia acima de tudo?”, essa pessoa poderá me dizer a resposta que ele sabe que deveria ser a certa “Eu quero ser discípulo de Jesus”, ou “Eu quero amar a Deus”, e a resposta pode ser a mais genuína. Mas a verdadeira resposta se revela no nosso dia a dia. Não despreze o poder do hábito e da prática na sua vida. Não pense que “é chato fazer sempre as mesmas coisas”; de certa forma é por isso que nossos cultos são semanais, nossas reuniões e nossos encontros não são uma vez no ano, porque nós precisamos constantemente lembrar ao nosso coração e instruir o nosso coração a se comprometer com Deus e sua vontade; como um pai que educa a sua criança a agradecer toda a vez que recebe algo.

Aquilo que você ama mais que tudo guiará toda a sua vida. Vamos ver como Paulo descreve o amor:

“Visto que Deus os escolheu para ser seu povo santo e amado, revistam-se de compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Sejam compreensivos uns com os outros e perdoem quem os ofender. Lembrem-se de que o Senhor os perdoou, de modo que vocês também devem perdoar. Acima de todas essas virtudes, revistam-se do amor que une todos nós em perfeita harmonia. Colossenses 3:12–14 NVI ”

O Apóstolo Paulo usa uma metáfora relacionada ao vestuário para descrever como é viver como “povo santo e amado” de Deus. Revestir-se de Cristo (Rm, 13:14) é revestir-se de compaixão, de bondade, de humildade, de mansidão e de paciência; acima dessas coisas precisamos nos revestir de amor. A ênfase no amor é fundamental aqui, porque nós somos guiados por aquilo que amamos, e de todas essas virtudes a mais importante é o amor.

Virtudes são bons hábitos morais, esses bons hábitos morais são uma disposição interna para o bem — uma vez que você adquire uma virtude (ex. paciência), aquilo começa a fazer parte de quem nós somos. Assim como existem bons hábitos morais, hábitos morais ruins (que chamamos de vícios do caráter). J. K. A. Smith, em seu livro Você é o que você ama diz que “qualquer um que já tenha criado filhos tem familiaridade com” a dinâmica dos vícios e das virtudes. “Desde cedo, precisamos constantemente dizer a nossos filhos (e exigir) que façam o que é certo. Estamos treinando seus sentidos morais”. “Mas a esperança e que, durante esse processo, eles internalizem uma percepção do que é bom e se tornem o tipo de pessoa que faz o que é certo, sem que haja necessidade da ‘vara’ das regras para obrigá-los.” [1] O discipulado é algo parecido, precisamos ser treinados e constantemente corrigidos pela Palavra e pelos nossos irmãos mais experientes (nossos discipuladores e pastores) para que nossos vícios sejam substituídos por virtudes.

Como você se veste?

Por isso que Paulo usa a ideia de “revestir-se”, a paciência, a mansidão… e acima de tudo o amor, se tornarão como sua segunda pele.

Precisamos gravar no nosso ser (hábitos, rotina, dia a dia), nosso maior comprometimento com Deus, para ir mais profundos na presença e no conhecimento dele, como fazer isso?

“Como a corça anseia pelas correntes de água, assim minha alma anseia por ti, ó Deus. Salmos 42:1 ”

O discipulado cristão consiste em ir à escola de Jesus. A escola de Jesus é uma escola do amor, não é uma simples transferência de informações. A ideia de que ao nos enchermos de informações, teremos uma vida diferente permeia nossa vida de um jeito que nem percebemos. Vivemos em um mundo que nos define por aquilo que sabemos, mas para Jesus não era assim: a primeira pergunta que ele nos faz é: “O que você quer?” (Jo. 1:37–38). E nós precisamos responder a essa pergunta, “o que eu mais desejo nessa vida? Qual é o meu maior anseio? A quem eu amo mais? O que eu amo mais?”. É por isso que às vezes você pensa de um jeito e faz exatamente o contrário do que tinha pensado em fazer, porque o que nos guia é o nosso coração e nem sempre somos guiados pelo que sabemos.

É por isso que conhecer a Deus, não é algo meramente intelectual, é algo que envolve o nosso coração e o nosso amor. Nós já estamos inseridos nessa vida amando, buscando e desejando algo. A soma de nossos amores é aquilo que nos guia no nosso dia a dia, e não é aquilo que sabemos em nossa mente. Por isso o salmista diz que “Como a corça anseia pelas correntes de água, assim minha alma anseia por ti, ó Deus. Salmos 42:1”. O Salmista descreve seu desejo por Deus com a sensação de sede, porque nossos apetites também dizem respeito àquilo que desejamos e amamos mais.

Ser humano é ter um coração. É impossível não amar. Logo, a questão não é se você amará algo acima de tudo, mas o que você amará acima de tudo. E você é aquilo que você ama. — J. K. A. Smith [1]

VAMOS ORAR

Pai todo-poderoso e amado, erro e me desvio constantemente como uma ovelha perdida. Sigo excessivamente os truques e as inclinações do meu coração.

Senhor, eu reconheço que nem sempre O amo como eu gostaria de amá-lo. Ajude-me a direcionar meu coração para a Sua presença e Sua palavra. Que eu possa, como os salmistas, me deleitar na Sua Lei.

[1] Esse devocional foi inspirado no livro de J.K.A. Smith. Você é o que você ama. Vida Nova, 2017.

Salvo algumas citações isoladas, os textos bíblicos seguem a NVT — Nova Versão Transformadora.

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Ana Bezerra Felicio

PhD candidate in linguistics and classical studies at the State University of Campinas in Brazil. My research is on the emotions in Senecan philosophy and drama